terça-feira, 22 de março de 2011

Tribunal de Júri - Histórias Reais - Parte I



Esta é a história real, perservados os nomes e os locais, de uma mulher que chamaremos de "Maria Lúcia" e que fora acusada pela prática do delito de homicídio, duplamente, qualificado, por haver matado seu companheiro e a sua amante, em um bar, vizinho a sua casa. Não traremos todos os elementos dos autos, mas apenas os essenciais para reconhecermos o que envolve e o que acontece no Tribunal do Júri.
Maria Lúcia, nasceu em uma numerosa família, sendo um dos muitos filhos de Seu "José", 
nascida na mais pobre periferia de uma pequena cidade do interior do mais agreste sertão, sem possibilidades, sem amparo, sem educação, sem políticas sociais...
Cresceu já ajudando a família a criar os seu irmãos menores, cuidando dos afazeres da casa e ajudando nas roças vizinhas, trabalhando com os irmãos maiores  como trabalhadora rural. Criança sem direitos, sem comida, sem brinquedos.
Aos dez anos de idade, e já vítima constante de abusos sexuais, fora expulsa de casa pelo seu próprio pai, que lembra-se na sua pequena e vaga memória,  lhe disse, empunhando-lhe uma imensa faca tipo "peixeira" e em tom ameaçador ordenou:
"- Saia de casa agora, prá não morrer, lugar de puta é no brega!!!"
Sem ter para onde ir, exatamente, e cumprindo a ordem do abandono, fugindo da fome e da falta de abrigo, afugentou-se no pequeno e promíscuo prostíbulo da cidade.
Ninguém partiu em defesa de "Maria Lúcia", se mais velha já era raquítica, pequena e magra, ficamos a imaginar, como o era ela com dez anos de idade.
O que passou pela sua cabeça, como traçar o seu destino, os seus sonhos, os seus planos, a sua história. Infância mutilada, futuro comprometido, esperança não conheceu.
Cresceu aprendendo a defender a si mesma, naquele mesmo ambiente hostil, agressivo, violento, formado de alcoólatras, abusadores, prostitutas, e toda uma espécie de pessoas que são colocadas à margem da sociedade, ou as vítimas ou os seus aliciadores, que vêem na pobreza, tão explorada, mecanismos para renegar, mais ainda a condição humana.
Logo depois, já estava fazendo programas, em troca de um prato de comida, de um lugar para dormir, ou até para poder comprar doces, ou um vestido de chita. Sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem ninguém. Esta é uma história real, de inúmeras meninas do Brasil de tantas "Marias Lúcias".
Não tinha Escolas, aliás sua maior Escola foi a Escola da Vida, seus professores a necessidade, a miséria, a pobreza, a violência, o abandono, e a maldade da natureza humana, dentre vários professores. As lições e deveres de casa eram aprendidos no seu singular cotidiano.
Enfim, esta foi a infância e a adolescência de "Maria Lúcia", vivendo de "brega em brega", de cidade em cidade, de pessoa em pessoa, sem nunca encontrar a possibilidade de ter um lar.
Qualquer briga, já era expulsa de mais um prostíbulo e partia na busca de um novo lugar para trabalhar e, ou até morar.
Esta historicidade não justifica ações, mas contextualiza os personagens em suas razões e motivos, em suas explicações e principalmente, em suas próprias acusações e defesas. Afinal, não podemos negar a historicidade dos personagens da vida.
Conheceu seu companheiro, num brega, e se apaixonou indo morar com o mesmo aos dezesste anos de idade, aproximadamente, e abandonando, a suposta vida fácil, que alguns apontam que estas mulheres fazem.
Mudaram de cidade, ele a levou para a sua cidade natal, alugou casa, compraram móveis de segunda mão, simples, e sim formaram um lar. Viviam as suas dificuldades e compartilhavam a própria miséria, e um amor.
Logo, logo, começaram as brigas, os tapas, as agressões físicas, morais e psicológicas, mas ela preservava a única possibilidade que a vida lhe tinha reservado de ter o seu lar e a sua família. E tudo ia passando, em nome da convivência, ela lutava para mais nunca viver a vida que já havia vivido, anteriormente.
As coisas só começaram a mudar, quando ele começou a arranjar outras mulheres, gastando o dinheiro da feira, com bebidas, farras e com diversos programas.
O bar vizinho era muito frequentado por ex- companheiras de vida "fácil", e que passaram de fato, a serem suas concorrentes. Ela que já mudou de "status" e que passou a condição de mulher de um homem só, vendo sua possibilidade de conquistar uma nova vida,  ir por água abaixo.
Certo dia, ele se demorou mais de chegar em casa, a comida sobre o fogão, esfriando, e ouviu as suas gargalhadas fartas no bar vizinho, naquele momento soube que ele estaria acompanhado e imediamente as emoções cegaram-lhe a razão.
Ré confessa, diz que de súbito, viu seu vulto se agarrando com uma mulher, e dirigiu-se ao local aonde o mesmo se encontrava, armada de uma peixeira, e desferiu-lhe 03 golpes no seu companheiro, e 01 golpe na mulher que o acompanhava. O resultado, duas mortes brutais. Presa em flagrante, não resistiu a custódia. Entregando, inclusive, a arma do crime.
Nossa Missão, procedermos a correta defesa.
Acompanhe esta história real e veja que  resultado surpreendente.

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